Visibilidade lésbica
Por Léo Ribas
LBL - Liga Brasileira de Lésbicas/Pr
Não é fácil encarar e vivenciar em plenitude uma sexualidade diferente da norma. E, quando isto ocorre, a princípio, é dentro de casa que a violência é praticada. Por isso é tão importante discutir e, falar cada vez mais, sobre as diferentes formas de viver a sexualidade.
Pretendo tratar aqui sobre as lesbianidades. Ser lésbica é estar exposta a intolerâncias e violências. Aliás, ser mulher e assumir-se lésbica é enfrentar uma dupla discriminação, que inicia-se no ambiente familiar e, ramifica-se por todos os espaços e tempos pelos quais passamos. Mães, pais e responsáveis tentam, de qualquer forma, impor às filhas lésbicas relações afetivo-sexuais com meninos. Acreditam que, assim, estão corrigindo um desvio ou uma doença. E assim como em séculos passados impunha-se às mulheres o marido escolhido, impõe-se, hoje, uma heteronormatividade fundamentalista que exclui e brutalmente destrói sentimentos, negando felicidade e futuro às lésbicas.
É imperioso que a sociedade se dispa de seus pré-conceitos e de seus julgamentos de valor sobre corpos, sexos, gêneros, sexualidades e desejos para compreender as lesbianidades. É esse o desafio! Nas lesbianidades desejos, corpos, comportamentos e sentimentos acabam não correspondendo às expectativas do que é considerado "normal" ou "natural". Assim, quando uma menina/mulher se relaciona com outra, causa espanto e estranheza. E o senso-comum faz uso de sua "mão-pesada" e logo julga: é doença, opção ou sem-vergonhice... É isto ou aquilo?
É importante desmistificar! Lesbianidade não é uma opção, porque se pudessemos optar, obviamente escolheríamos não ser rechaçadas ou violentadas. E não é sem-vergonhice. Lesbianidade é sentimento afetuoso, é desejo, é sensação, sonhos, paixão. É sexo, é orgasmo, é romantismo, é relação, é perfume... Assim como a heterossexualidade poderia ser definida por heterossexuais. Entretanto, a heterossexualidade não é questionada, pois é a norma. O que dizer se uma lésbica questiona: "por quê você é heterossexual?" ou mesmo, "como você pode se interessar por uma pessoa do sexo-gênero oposto?", "Isso é uma doença, uma opção ou sem-vergoninhe?
Talvez fosse importante que heterossexuais se colocassem no lugar de não-heterossexuais, para que pudessem entender, ou pelo menos, respeitar a lesbianidade. Claro que é difícil colocar-se no lugar de outra pessoa, ainda mais quando é diferente de nós. Mas, é partir desta compreensão que podemos dar passos para a superação do preconceito e da violência. Provavelmente, assim possamos transformar essa realidade tão violenta.
Pesquisas revelam que 60% das lésbicas no país já sofreram algum tipo de agressão em virtude de sua orientação sexual. (fonte: Grupo Gay da Bahia). É importante ressaltar que as violências contra as mulheres e por orientação sexual se explicitam para alem do ambiente familiar. No ambiente escolar a hostilidade, a discriminação e o preconceito vêm causando graves consequências para a vida da juventude que se assume fora da norma heterossexual. Talvez a mais séria seja o abandono, ou a dita "evasão escolar", última alternativa que acaba sobrando para quem sabe que não é bem vinda na escola pública. Conceitos tão utilizados pelos discursos educacionais, como "fracasso escolar" e "evasão escolar", de certa forma escondem e mascaram as realidades de expulsão das lésbicas das escolas.
Assim, acredito que a transformação e a garantia de direitos de sujeitos não-heterossexuais devem ser pauta da educação, em especial, da educação pública, pois as escolas públicas não são apenas para heterossexuais e, por isso, precisam adquirir outros sentidos, como o de espaços múltiplos que garantam a formação de qualidade para todas e todos, efetivamente e, com dignidade e respeito.
Texto publicado no jornal 30 de agosto da APP- Sindicato - Edição de comemoração ao Dia Internacional das Mulheres - Março / 2010